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quinta-feira, 6 de março de 2014

França x Islã




As orações dos muçulmanos nas ruas das cidades francesas foram comparadas, pela extrema-direita, à ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial. O Governo proibiu-as mas não há lugar para todos os crentes nos antigos e novos locais de culto. Muçulmanos franceses num edifício dos bombeiros convertido em local de culto. Em Paris, o acordo assinado entre os responsáveis de duas mesquitas do bairro número 18 (no norte da cidade) e o Governo não agradou a todos os muçulmanos. A proibição de rezar nas ruas e passeios entrou em vigor na sexta-feira, dia 16, mas, nesse dia, nem todos conseguiram rezar no interior das mesquitas e de um quartel dos Bombeiros transformado à pressa em local de culto muçulmano. Violando a lei, 200 crentes rezaram numa ruela do quarteirão parisiense de Barbés. Também em Nice, no sul da França, e em Gennevilliers, nos arredores de Paris, aconteceu o mesmo.
Em Marselha, onde, tal como em Paris, as tensões entre muçulmanos, as autoridades e uma parte da população são habitualmente muito agudas, não se verificaram incidentes. A Polícia não interveio na sexta-feira passada contra as orações na rua, mas o Governo indicou que não tolerará nova violação da proibição na próxima sexta-feira, dando a entender que não exclui o recurso à força para fazer respeitar a lei. Oferta não corresponde às necessidades – Com as antigas mesquitas e os novos locais postos à disposição dos fiéis, a cidade de Paris tem agora 13 mil lugares disponíveis para o principal dia de oração semanal (sextas-feiras), mas esta oferta apenas corresponde a metade das necessidades, segundo o Conselho Francês do Culto Muçulmano. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos Demográficos, existem no total, em França, 2,1 milhões “muçulmanos declarados” com idade compreendida entre os 18 e os 50 anos.
Os muçulmanos criticam os novos espaços, designadamente o de Paris, por ainda não ter sala de abluções para as mulheres nem carpetes instaladas. Criticam igualmente o fato de não terem acesso ao “quartel-mesquita” de Bombeiros todos os dias – de momento, as orações apenas são autorizadas, nesse local, à sexta-feira. “Estamos a ser tratados como gado”, disse um muçulmano na televisão. O Governo garante que, em Paris, esta solução é provisória até 2013, ano em que deverá terminar a construção de um Instituto das culturas islâmicas que, segundo o Ministério do Interior, resolverá todos os problemas. “Islamização da França” – Entretanto, Marine le Pen, líder da extrema-direita, continua a denunciar a “islamização da França” e evoca “uma chantagem”. “O Estado francês aceitou uma verdadeira chantagem porque eles ocupam as ruas para obrigar o Governo a violar a lei sobre a laicidade dando-lhes um edifício”, disse a chefe do Frente Nacional. Anteriormente, Marine le Pen tinha comparado as orações na rua à ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial.

Fonte: Daniel Ribeiro – Expresso.pt — Título RBP

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